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quinta-feira, 18 de maio de 2017

TEATRO CEGO: NÃO VER PARA ENTENDER


Como descrever uma experiência que não se vê, apenas se sente com três sentidos - audição, olfato e tato - e com a alma? Como explicar a sensação diferente de se colocar no lugar de uma pessoa que não possui a visão?

Pense naquele momento em que você está lendo um livro, imaginando os cenários, aprendendo sobre os personagens, criando as situações, o figurino e as personalidades. No Teatro Cego imaginamos tudo, só que as situações surpreendem seus sentidos o tempo todo e você participa da história, com apresentação de música ao vivo e efeitos sonoros.

Este é o Teatro Cego: uma proposta diferente, que nos faz praticar a empatia. Durante 60 minutos somos capazes de perceber tudo o que acontece ao nosso redor, mas incapazes de ver as cenas, pois os atores encenam em um ambiente totalmente escuro. Por um breve momento - o tempo passa tão rápido que nem percebemos - conseguimos entender um pouco do cotidiano de uma pessoa cega e como muitas vezes não valorizamos todos os nossos sentidos.

Além de jornalista, também sou palestrante e falo para funcionários de várias empresas sobre motivação e inspiração, com o propósito de resgatar valores como empatia, resiliência, cooperação, confiança, auto-estima e pró-atividade. Acredito que o palestrante - assim como qualquer profissional competente e dedicado - precisa agir de acordo com seu discurso. Por isso, depois de conversar com tantas pessoas sobre empatia, estava na hora de vivenciar essa experiência.

Depois de quatro anos se apresentando em outras cidades, a primeira apresentação do teatro no Rio de Janeiro foi espetacular: o diretor Paulo Palado reuniu um elenco competente e escolheu um local onde o público senta no palco, participando das cenas, mas sem enxergar absolutamente nada.

Para entrar no ambiente, contamos apenas com o tato e o bom senso. A primeira regra é relaxar, se entregar ao novo, formar uma fila única e colocar a mão esquerda no ombro do colega da frente. Parecendo um trem formado por pessoas, cada passageiro precisava ser guiado pelo seu instinto. Todos juntos, chegamos em nossos assentos e completamente no escuro, vivenciamos momentos inesquecíveis.

Na peça O Grande Viúvo, de autoria de Nelson Rodrigues, o escritor consegue mesclar drama com humor de forma descontraída e cativante. A interpretação dos atores aliada a efeitos sonoros de qualidade, aromas deliciosos e até gotículas de água caindo sobre nossas cabeças nos transportam para outros lugares e nos sentimos dentro da história.

Somos levados até um túmulo, sentimos o vento e as gotas de chuva cair sobre nossa pele em uma noite escura, somos convidados a sentar em uma mesa e tomar um delicioso café com pão e manteiga e até sentimos nosso coração pulsar ao ouvir as melodias - tocadas ao vivo - que embalam as cenas.

Uma das atrizes dessa peça, minha amiga Sara Bentes, é uma fonte de inspiração. Sara desenvolveu ao longo dos anos uma carreira na área artística e musical. Ela é dona de uma belíssima voz e possui um talento admirável para atuar, dançar, escrever e compor - até malabarismos aéreos ela faz. Hoje ela tem dois livros publicados - sendo um de poesias e outro de crônicas sobre sua vida pessoal e profissional -, dois CDs lançados - um infantil e outro adulto - e participa de uma variada programação cultural pelo mundo.

Posso dizer que essa experiência foi melhor que cinema 3D. Usando a imaginação e os meus sentidos, me senti um personagem dessa história. Foram novas sensações e vivenciei com a alma cada momento da peça. Os olhos não vêem, mas enxergamos tudo de uma forma ainda mais profunda e valiosa. Vale a pena conhecer. No Teatro Cego, diferente do tradicional, você precisa não ver para entender.



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