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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Quando Rubem Braga se encontra com Manuel Bandeira


Dois homens: um cronista e um poeta. Dois gigantes da literatura brasileira.
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“(...) e naquele instante se achava sozinho no salão dos doces, perante o Grande Bolo Iluminado.
Então tivemos a consciência de que estávamos sendo televisionados e minha namorada se disfarçou numa jovem casuarina; sentei-me no chão, apoiei a cabeça no seu tronco e adormeci.
Quando acordei, ela era outra mulher e passava a mão na minha cabeça e me dizia: ‘agora eu me chamo Teresa’. Eu não quis perguntar por quê; tive receio de que ela me contasse alguma coisa triste e então me ergui dizendo rapidamente: ‘vamos ao Pavilhão La Fiesta onde há gôndolas de cristal na água azul e distribuição de laranja-cravo; vamos assistir à corrida das Zebras Imperiais e ver a Girafa que planta bananeira, dizem que é uma coisa louca’.
Ela, porém, fez um sorriso de dúvida, ou de pena, e partiu. Quando olhei em torno vi que não havia mais ninguém.
Eu estava sozinho na penumbra e no silêncio; sentei-me em um banco de pedra e fiquei apenas olhando uma parede cinzenta, uma parede fria, uma parede lisa, triste. Uma parede”.
(Fragmento de “Quermesse” de Rubem Braga)
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Madrigal tão engraçadinho
Teresa, você é a coisa mais bonita que eu vi até hoje na minha vida, inclusive o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos.
(Manuel Bandeira)
Profundamente
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.
No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído do bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.
(Manuel Bandeira)
***

Note que, além do cenário e do "adormecer" e "despertar" de ambas as obras, na crônica Rubem Braga escreve que "então me ergui dizendo rapidamente...", bem ao ritmo, ao fôlego de "Madrigal...".

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